Maria Padilha das Almas – A história por de trás das gargalhadas
É quase impossível entrar numa Kimbanda ou Umbanda e em algum momento não ouvir falar da Pomba Gira Maria Padilha das almas, é uma das mais antiga e conhecida no mundo inteiro. Mas será que realmente você conhece esta entidade? Sabe do que ela gosta e no que ajuda?… São estas e outras curiosidades que buscaremos responder para os nossos leitores.
• Texto – Professor Eduardo Henrique Costa
Ela vem de vermelho e preto, com sua cigarrilha e o bom perfume, suas gargalhadas permitem sentirmos a energia de vitória, essa é a Maria Padilha das Almas, uma das primeiras Pombas Giras das mais antigas a vir nos terreiros. Talvez você conheça como Maria Padilha das Sete Catacumbas, Maria Padilha da Porta dos Cemitério, Maria Padilha do Cruzeiro das Almas, são muitos nomes de batismo religioso que ela recebe por diversas aparições em lugares diferentes, mas esta entidade rege todo cemitério e tudo que tem ligação com as almas.
O nome Maria significa “rainha” e o nome Padilha está ligado à “panela” ou até mesmo “fogo”, sendo ela, a rainha do fogo. Ela é majestosa, de porte altivo, é a digna representante das mulheres que não tem medo de nada, exigindo sempre muito respeito. Ao contrário do que as igrejas pregam, esta entidade é defensora da família e odeia traição, principalmente de homens traindo mulheres. Gosta de luxo, de dinheiro, de boas joias, de boa vida, de música e de boa comida. É uma das poderosas comandante tanto do Reino dos Cemitérios, como também das Almas. Sua dança é sensual, pois gosta de seduzir homens pelos movimentos corporais. Muitos recorrem à ela para atrair amores, abrir os caminhos, pois sabem que ela é rápida e eficiente, também é implacável nas questões de demandas (guerras espirituais).
São várias lendas e histórias dedicadas a ela, por ter tido diversas reencarnações, vidas terrenas, onde adquiriu diversas experiências e se tornou um grande espírito de alta evolução, uma das lendas mais conhecida e que explica como ela passou a trabalhar tanto para o amor e ser defensora das mulheres veremos abaixo:
Tereza invadiu a igreja de uma forma como nunca havia feito antes. Não se benzeu e nem ao menos olhou para a imagem de Cristo, que de sua cruz, agonizante, parecia olhar diretamente para ela enquanto avançava pela nave. Precisava falar com o padre Olavo nesse instante, não havia tempo a perder. – Padre! – seu grito ecoou pelas paredes repletas de símbolos aos quais ela sempre dera imenso valor, mas que nesse momento nada mais eram que meras imagens que apontavam-lhe o dedo culpando-a pelo pecado gravíssimo que cometera. – Padreee!
A voz subira de tom a ponto de atrair imediatamente o coroinha que estava a dormitar atrás do altar. – Dona Tereza! O padre Olavo foi atender um doente que precisa de extrema unção! A mulher sentou-se em uma cadeira da primeira fila e desatou em copioso pranto. O menino sem saber o que fazer correu para a rua e encontrou o padre que vinha já bem perto. – Dona Tereza está chorando como louca lá na igreja, o caso deve ser sério! – Olavo sentiu um baque no peito. – O que teria acontecido? Alguém teria descoberto? – Tudo bem Jonas, pode ir para casa que eu cuido disso.
Apressou o passo e da porta ouviu o choro da mulher. – Tereza, o que houve? – Com um salto ela levantou-se e com o dedo estendido para ele gritou: – Eu estou grávida, cafajeste! Grávida de você! Como pode deixar isso acontecer? Você me jurou que isso não seria possível, que não podia ter filhos. O que faço agora? Meu nome será lançado na lama! E meu marido? Meus filhos? – Calma! – ele tentava ganhar tempo enquanto em sua cabeça as imagens passavam em turbilhão. – O que faria com essa louca? Fora ela quem o seduzira, enfiara-se em sua cama, nua, em uma tarde que gostaria de esquecer. Tentara-o com seu belo corpo e se entregara de forma avassaladora.
Porque dizia que o filho era seu? Ele mesmo sabia de seus amantes, ditos em momentos de confissão muito antes da tarde fatídica. -Vamos sentar, respire fundo! Como sabe que é meu? – Falava pausadamente tentando inspirar confiança – Não pode ser de seu marido ou… de outro? – Só o que me faltava era isso – o tom subira novamente – me engravida e ainda me chama de vagabunda. Nunca mais dormi com homem algum depois de nosso encontro, meu marido viaja muito e nas poucas vezes que esteve em casa, não me entreguei a ele, por amor a você!
– Depois de pensar um pouco falou: – Então não há alternativa além do aborto, procure uma dessas velhas rezadeiras e dê um jeito nisso, o que espera que eu faça? – Precisamos fugir, eu abandono tudo para ficar ao seu lado! – desesperada segurava a batina do padre com força – Teremos nosso filho longe daqui! – Tentando ganhar tempo Olavo tirou as mãos dela de sua roupa. dirigiu-se ao altar e tamborilou com os dedos sobre a branca toalha, virou-se com raiva:
– Nunca! Vire-se! Você foi a culpada, me levou para a perdição agora quer acabar comigo? Como posso largar o sacerdócio e viver com uma prostituta que deita em qualquer cama com qualquer um? – Tereza deu um grito de ódio e partiu para cima do padre. Havia um punhal em sua mão. A lâmina afiada foi cravada no abdômen do rapaz que caiu de joelhos.
Tereza continuava com a arma na mão manchada com o sangue do padre e foi com ela que cortou a própria jugular, tendo morte quase instantânea. Por muitos anos o espírito de Tereza foi torturado pelas visões dessa e de outras vidas em que sempre causara sofrimento e mortes. Ao atingir um nível de compreensão adequado ao caminho evolutivo, tornou-se Maria Padilha das Almas, e ainda hoje busca ajudar a todos que a procuram tentando fazer com que novas almas não se percam como ela se perdeu por diversas vezes.
Cantiga para Maria Padilha das Almas (pontos cantados)
Abre essa cova
Quero ver tremer
Abre essa cova quero ver balancear
Abre essa cova
Quero ver tremer
Abre essa cova quero ver balancear
Maria Padilha das almas
O cemitério é o seu lugar
É na Calunga que a Padilha mora
É na Calunga que a Padilha vai girar
Oferenda
• Materiais Necessários: farinha de mandioca, licor, pipocas estouradas normal sem sal ou açúcar, prato de barro grande, arroz branco cozido, azeitonas pretas, 1 batom, 1 espelho, 1 pente vermelho, 7 rosas vermelhas, 7 cigarrilhas, 7 velas vermelha e preta e um champanhe.
• Modo de fazer: Em um prato de barro faça um padê de licor (farinha de mandioca misturada com licor), coloque um pouco de pipoca no meio, faça sete bolas de arroz cozidos e deixe ao meio, em volta das pipocas deixe azeitonas pretas.
• Leve de presente: 1 batom, 1 espelho, 1 pente vermelho e 7 rosas vermelhas. As rosas podem serem colocadas encima do prato de barro ou ao lado. Os presentes podem serem levados numa caixinha pequena aberta podendo ser uma própria caixinha que tenha espelho dentro, igual as que mulheres costumam muito guardar brincos e joias. Ou poderá estar enfeitando ou arrumando um lugar para os presentes no prato. Acenda sete cigarrilhas colocando na borda do prato, acenda sete velas e sirva como bebida champanhe despejando um pouco sobre o chão.
Caso você não tenha assentamento, poderá entregar na sétima catacumba ou portão do cemitério.