Linha dos Caboclos Quimbandeiros

A Linha dos Caboclos Quimbandeiros é uma das linhas de profunda ligação com o Catimbó e não é atoa que muitas cantigas, lendas e fundamentos demonstram esta forte aproximação. Nesta linha temos a formação de diversos índios americanos que foram grandes feiticeiros e temidos, são grandes conhecedores da medicina da floresta e de todos os mistérios que envolva ervas, pedras, entre outros elementos encontrados nas matas.

 

Imagem: Lokis Gezüch – Emil Doepler.

Eu lembro que no ano de 2017 por enquanto que estava criando conteúdos na madrugada sobre os Exús que compõem esta linha, acabei indo dormir e tive um sonho e nele, eu passava por um povoado de guerreiros indígenas, onde descia de uma grande árvore uma serpente idêntica a da imagem do site. Quando ela desceu, eu não tive medo e nem aquele povo todo que aparecia em meu sonho, todos saudavam e reverenciavam aquela linda serpente como um deus, eu lembro que quando eu fui pegar imagens da cobra cainana e tinha ficado impressionado, que era idêntica a do meu sonho, ao qual tive certeza que ele realmente era um indígena encantado das florestas. E nesta linha de fato, encontramos o Exu Cainana, Exu Cobra, entre outras entidades com nomes de elementos das florestas.

Nesta linha muitos destes espíritos apresentam nas manifestações uma voz gutural, muita das vezes quando estão incorporados em adeptos, mesclam a língua nativa com a língua regional. Não gostam de serem muito observados e nem que fiquem olhando em suas faces, não possui como costume o uso de palavras de “baixo calão”, por justamente serem espíritos das florestas.

Erroneamente muitos acabam achando que os que possui nomes de animais são literalmente animais, quando na verdade, estes nomes mostram a ligação com o animal do poder que aquele espírito tem e os seus comportamentos e que se espelham naquele animal, são exemplos: Exu Pantera Negra, Exu Cobra, Exu Cainana e etc.

As entidades contidas nesta linha são especialistas em trabalhos de cura e desobsessão, são componentes desta linha:

• Exu Pantera Negra (chefe da linha)
Este nome é expressão de força. Ligado as guerras, possui amplo senso de justiça, na linha dos Caboclos, é extremamente respeitado e muitos de seus subordinados aceitam algumas oferendas similares a de seu chefe.

• Exu 7 Cachoeiras
Conhecido cabalisticamente pelo nome de Khil, é o quarto comandado do Exu Calunga. O nome de Exu 7 Cachoeiras, é devido esta entidade ser muito conhecido nos trabalhos de Kimbanda nas cachoeiras e é responsável pelos grandes abalos sísmicos.
Em suas oferendas, é um grande apreciador de charutos pretos, sendo sua comida preferida uma galinha d’ angola, recheada com farofa no azeite-de-dendê.

• Exu Tronqueira
Clistheret é o seu nome cabalístico, esta entidade é o sexto comandado do Exu Calunga.
Tem o poder de fazer as pessoas trocarem o dia pela noite, principalmente os jogadores e as “mariposas”.
É o encarregado da guarda das estradas e dos caminhos. Dentro da Kimbanda pode ajudar na proteção dos terreiros.

• Exu das 7 Poeiras
Cabalisticamente recebe o nome de Silcharde, é o sétimo comandado do Exu Calunga. Seu principal poder desperta alta imaginação, fazendo com que as pessoas vejam todas as espécies de animais. É o guardião das estradas, caminhos nas matas e becos.
Em suas manifestações se apresenta em forma de “Duende”, com roupagem na cor cinza escuro.

• Exu das Matas
Possui o nome cabalístico de Hicpacth, ocupando a posição de nono lugar na ordem dos comandados pelo Exu Calunga. Na Kimbanda é solicitado a ajuda, quando uma pessoa amada foi embora e desejamos trazê-la de volta.
O nome “Exu das Matas” não é atoa! Para esta entidade é designado os trabalhos dentro das matas, sendo comum dentro dos diversos cultos da Magia Negra.

• Exu das 7 Pedras
Conhecido cabalisticamente pelo nome de Humots, na hierarquia cabalistica é o décimo comandado do Exu Calunga. É um grande mago da magia umiversal, ou seja, de toda magia existente no astral. Na Kimbanda a sua presença pode ser solicitada em toda a espécie de ajuda sobre Alta Magia, encarregado pelos “Taros Adivinhatórios”, dos “Signos Zodicais” e “Calendários Esotéricos”, além de diversos tipos de numerologias, mapas astrais, simbologias mágicas e etc.
Este Exu possui grande poder de transmissão, quando solicitado e qualquer assunto referente à sua especialidade.

• Exu do Cheiro ou Cheiroso
Possui o nome cabalístico de Aglasis. Comanda uma poderosa falange de mais de 49 Exus. O nome de “Exu do Cheiro” não é atoa, pois em suas manifestações, conforme os trabalhos que estão sendo feitos, exala um bom ou mal cheiro. Em suas aparições costuma ser na forma de uma criatura humana, coberta por uma camada fluídica.
Esta entidade também é pertencente à Linha de Omolu, mas, é supervisionado pelo Exu Caveira.
O local que costuma dar preferência para suas entregas de trabalhos, é os jardins, ou lugares que existam flores campestres.

• Exu Pedra Negra
Claunech é o seu nome cabalístico, é o sexto comandado do Exu Calunga (Sirach).
Suas aparições é na forma de um cavalheiro elegante. Sua principal atuação quando é invocado, é nos casos financeiros, pois tem o poder sobre a riqueza, protege as pessoas em dificuldades financeiras. Este Exú pode ajudar na descoberta de tesouros escondidos.
Em suas oferendas, costuma apreciar vinhos tintos, no qual é misturado com mel-de-abelhas. Assim como o Exu Pantera Negra, gosta de frutas, principalmente de jamelão (escuro).

• Pomba Gira da Figueira
Esta entidade possui legiões de espíritos femininos que são bem antigas, viveram há milênios em passagens sobre a Terra e alcançaram um enorme grau de discernimento, desempenhando uma função de “protetoras das raízes do culto”.

 

• FONTE CONSULTADA: MARIA, José. No Reino Dos Exus. 6.ed. Curitiba: Pallas, 2006.

 




O significado de “Catiço”

Normalmente é comum ouvir dentro do Candomblé a palavra “catiço”, sendo usada para se referir aos Exús e Pombas Giras, diferenciando do Òrìṣà Èṣù ou Elégbará. Erroneamente muitas pessoas associam que os compadres e comadres são escravos dos Òrìṣà, o que não é! Pois pertencem a culturas e tradições diferentes, e há pensamentos de que “catiço” se refere a escravo, pois existe uma certa teoria que teria ligação com a palavra “cativeiro”, o que é uma idéia aceita por alguns dentro do caminho religioso de matrizes afro-brasileira. Certo ou não, se tratando deste assunto não há uma origem histórica ou cultural, apenas teorias.

Analisando o termo “Catiço” dentro do português brasileiro, pode ser compreendido como um sinônimo de esperteza e agilidade. Pois é muito comum de uma forma popular usarem esta palavra para se referir a uma criança hiperativa “Nossa! Seu filho é o catiço!”, quanto uma pessoa de má índole “Aquele homem é o catiço atirando”, o que também pode ser usado para ser referir a uma pessoa endiabrada, encapetada ou travessa. E no Candomblé é muito comum a narrativa de que Exú e Pomba Gira são espíritos muito espertos e por isso devem ter muito cuidado com acordos feitos, e que são espíritos que podem pregar travessuras, serem brincalhões ou aplicar certas punições corretivas em seus médiuns, o que reforça a teoria que possa ser este o motivo do uso desta palavra. O Professor Eduardo Henrique Costa (fundador do Universo e Cultura) ensina que os Exús e Pombas Giras são seres totalmente ligados ao movimento e os caminhos, além de ser ancestrais que podem aprender com qualquer um que observa, para ele as duas teorias de significado da palavra são aceitas, porque para cada família ou região pode ter variações nos significados do uso da mesma palavra.

No Candomblé dizer “Catiço” não é única forma adotada por alguns religiosos, há cultuadores que os chamam de “Exús-Egúns”, por ser justamente espíritos desencarnados e que atuam pelo plano astral podendo ajudar a manipular energias, trazer boa sorte ou má sorte, bênçãos ou punições.




A diferença entre Kiumbas e Exus Kiumbas

Há muitas pessoas que confunde e acredita que são iguais, isto infelizmente acontece devido os auto-intitulados “Mestres de Kiumbanda” que possuem experiências apenas em ter muitas curtidas, mas poucas experiências reais com o ocultismo e a tradição, mas de forma prática entenda o assunto.

Kiumbas são espíritos de baixa iluminação, sem muito desenvolvimento espiritual. Eles costumam viver em zonas inferiores do astral (onde as literaturas espíritas conhecem como ‘Umbral’). Por conta de muitos deles serem tão materialistas, estão sempre em busca da volta pela vida terrena, muitos vivem em busca de vinganças e de enganações, acontecendo muita das vezes com terreiros que não tem uma devida defesa espiritual ou com médiuns não desenvolvidos, receberem a presença de um Kiumba e ele acaba fingindo ser uma entidade evoluída.

São espíritos esquecidos, que tentam se fortalecerem de alguma maneira. Nas literaturas umbandistas ficaram conhecidos pela definição de “marginais do astral“. Segundo o professor Eduardo Henrique, definirem como marginais é devido 5 fatores principais:

  1. Não seguem leis ou ordens
  2. Não possuem propósitos
  3. Precisam se manter em cima de “furtos” de energias (vampirismo)
  4. Facilmente podem ser manipulados devido a ignorância, arrogância e falta de conhecimento
  5. São aproveitadores.

Os Kiumbas depois de um certo tempo, não lembram nem se quer de seus nomes, história de vidas terrenas, pelo fato de muito deles se obscurecerem e por isto, feiticeiros costumam invocá-los para práticas destrutivas, pois eles estão sempre em busca de algum ganho, recompensa ou domínio. Estes mestres que utilizam destes espíritos costumam dar nomes como “Chico dos Infernos, Matador Diabólico”, o que trazem para eles um novo sentido, apenas se alimentarem e ferrar com qualquer um, oras para eles não há o que perder.

Há um ditado que diz “nunca esqueça de quem você é e suas origens, para que as pessoas não te transformem no que elas querem que você seja”.

 

– Pinterest.

Os Exús e Pombas-Giras costumam recrutar muitos Kiumbas para trabalharem dentro de suas falanges (grupos espirituais) e com isto evoluírem, se tornando posteriormente um Exú ou uma Pomba-Gira após aprenderem tudo que é necessário com seus mestres. Estes espíritos de baixa evolução que começam a trabalhar sob ordens dos Exus, são conhecidos como Exus Kiumbas. Que podemos compará-los com a idéia de um “estagiário”, adquirindo experiências para assumirem um possível cargo.

Concluindo:
Um espírito que entra recentemente para corrente dos Exús é chamado de Exu Kiumba, por hierarquicamente ser de baixa evolução.
Aquele que não pertence a nenhuma corrente e não segue nada, é um Kiumba.




Kalunga – A Morada dos Ancestrais

Você certamente já deve ter ouvido falar sobre ‘Kalunga’ ou em algum momento presenciará dentro da Kimbanda ou Umbanda, o uso frequente desta palavra. Mas o que muitos não sabem, é sobre sua origem e profundo significado, nesta matéria buscarei demonstrar um lado que possa ser que não conheça, confira.

Etimologicamente este termo se originou a partir do idioma quimbundo (ka’lunga), que significa literalmente “mar“, mas pode ser usado para transmitir a idéia de “grandeza” e “imensidão“. Alguns estudiosos relatam que os negros utilizavam este nome para se referir ao deus dos missionários católicos, pois consideravam-no vago como a imensidão do mar.
Para os congos e angolenses, por exemplo, os primeiros a serem trazidos para o Brasil como escravos, kalunga era uma palavra usada dentro de suas crenças para se referir o mundo dos ancestrais, pois era deste lugar que vinha a força para suportar os períodos tão trágicos e desumanos.

Fotografia realizada em Copacabana, Rio de Janeiro no Brasil.

Ponto antigo cantado por um Preto Velho
Os quindins, os quindins,
Os quindins, ô mujongo
Olha lá no mar
Olha lá no mar, ô mujongo
Olha mujongo no mar
Sua terra é muito longe, ô mujongo
Ninguém pode ir lá
Ninguém pode ir lá, ô mujongo
Olha mujongo no mar…

NOTA: Alguns costumam cantar outra versão, ao invés de dizer ‘olha mujongo no mar’, dizem ‘bota mujongo no mar’, pelo motivo da Terra Ancestral ser tão longe, que a única forma pelos vivos seria cultuando suas entidades na beira do mar, por não conseguirem cruzar o portal para outra dimensão.

Imagem produzida pela nossa equipe para que de uma forma didática, possamos compreender a história que será contada.

Segundo uma história do povo kalunga – o mundo era representado como uma grande roda cortada ao meio, e em cada metade havia uma grande montanha. Numa metade da roda, se encontrava o pico da montanha que ficava virado para cima, mas na outra metade a montanha estava invertida de cabeça para baixo. De um lado da roda, a montanha de cima representava o mundo dos vivos. Do outro, a montanha de ponta-cabeça representava o mundo dos mortos, a Terra de seus ancestrais.

Quando reparamos na cantiga de Preto-Velho exposta anteriormente “sua terra é muito longe… Ninguém pode ir lá…”, justamente pela Kalunga ser as águas que separa as dimensões, um portal de trajeto para o mundo espiritual ou pelo outro lado, uma volta para o mundo dos vivos. Dentro das Umbandas e Kimbandas, existe a Kalunga que se refere aos cemitérios, os antigos costumavam chamar de “Kalunga-Pequena”, devido os corpos serem depositados naquele local. Mas o maior portal está na imensidão, tão vasta de trajeto dos espíritos que é nas águas, conhecida como “Kalunga-Grande”, onde norteia grandes mistérios que ainda não existe tantos conhecimentos voltados sobre este lugar.

Os africanos, principalmente os povos iorubás, levam muito a sério a ideia de respeito com o mar, pois existem até provérbios que dizem “ninguém sabe o que se encontra debaixo do mar verdadeiramente”, um lugar pouco explorado e incapaz do ser humano cavar as areias do mar.

Imagem africana do deus Kalunga Ngombe.

Kalungangombe na África, é considerado um deus angolense das profundezas do globo terrestre, conforme afirma Olga Gudolle Cacciatore (Dicionário de cultos afro-brasileiros, 1977), para ela, Kalunga-Grande passando pelo kimbundo (quimbundo) e sua origem africana, é o mar, o oceano. E Kalunga-Pequena, também possui formação histórica no kimbundo, que se refere ao cemitério, a morte; enquanto kalungas no plural – se refere a falange de seres espirituais ou dos povos kalunga.
Observação: O uso da palavra “Calunga”, também é correto, se refere a adaptação no português-brasileiro.

Imagem: Sergio Amaral/MDS.

É necessário que possamos refletir sobre a visão de mundo que os africanos tinham, pois associavam a palavra Kalunga à morte e o mundo dos mortos, de um jeito muito diferente que os brasileiros, vale ressaltar que na cultura ocidental o cemitério é visto como a morada dos mortos – um lugar tristre e muita das vezes assustador, enquanto para os povos kalunga, era o que tornava uma pessoa renascida, podendo se tornar ilustre e importante, porque mostrava que aquela pessoa tinha incorporado em sua vida espiritual a força de seus antepassados, sendo assim, os reis acreditavam que só governariam enquanto fossem capazes de se manterem um povo unido em torno dessa força.

Interior de um navio negreiro, pintura do artista alemão Johann Moritz Rugendas. (Aprox. 1830).

Os kalungas também são conhecidos como os descendentes de escravos fugitivos e libertos que formaram uma comunidade autossuficiente na região atualmente conhecida como o estado de Goiás, no centro do Brasil.
Dentro da crença afro-brasileira existe entidades chamadas de Kalunga (Calunga), como por exemplo, Calunguinha, Exu Calunga, entre outros, que recebem este nome porque justamente são ligados ao oceano e outros ao cemitério. Na Umbanda existe um seguimento em que as entidades pertencentes a Kalunga-Grande são espíritos ligados a Iemanjá, e os espíritos ligados à Kalunga-Pequena são espíritos que trabalham na linha de vibração do Senhor Omolu.

Imagem: Sereia, óleo sobre tela – Jean Errado.

Eu tô te chamando, ó Calunga!
Pra você vir trabalhar,
Quando eu te vejo, ó Calunga!
Vejo também a sereia do mar.

Eu tô te chamando, ó Calunga!
Pra você vir trabalhar,
Quando eu te vejo, ó Calunga!
Vejo também a sereia do mar.

Eu tô te chamando, ó Calunga!
Pra você vir trabalhar,
Chega também a sereia do mar.




O Crânio na Kimbanda

Muitas pessoas não entendem o significado do crânio para Kimbanda, mas podemos afirmar que práticas e simbologias envolvendo crânios não é um costume apenas da Kimbanda, confira.

O crânio é o símbolo da sabedoria e do conhecimento guardado.

Nos mistérios internos o crânio é o símbolo da natureza interna despojada de sua origem através do processo de iniciação nos grandes mistérios do ocultismo. Ele também é um símbolo de morte, seja a morte da carne ou a morte do ego de si mesmo. Esta é uma razão na qual o crânio parece nas cerimônias de iniciações nas antigas religiões.

Em nossa dimensão ele é um lembrete de que uma antiga personalidade estava morrendo para uma nova consciência. O crânio particularmente com os ossos cruzados, também é um símbolo do Deus em antigas religiões pagãs.

Ponto riscado do Exu Caveira.

Os ossos cruzados a baixo do crânio são símbolos para algumas culturas, do Deus Sacrificado, é um sinal da ressurreição e da morte. Na Bruxaria, o crânio algumas vezes é mostrado colocado na frente de um caldeirão. Nesta posição ele simboliza o renascimento através dos poderes da transformação associada com o caldeirão. Na Bruxaria Italiana o crânio também representa a culminação do conhecimento ancestral, na Kimbanda o crânio com os ossos cruzados representa a falange dos caveiras, os Exus que habitam nos cemitérios.

O significado de conhecimento interno envolvendo o crânio é tão forte que em muitas histórias de culturas dos povos antigos, quando acontecia a vitória sobre os inimigos, eles arrancavam suas cabeças e separavam do corpo para impedir o acesso daquele indíviduo ao seu conhecimento adquirido para o pós-vida.

Créditos finais

Imagem utilizada na matéria: SANTOS, Gilton. Exu Senhores da Magia. Tríade, 1996.




Figueira é uma árvore maldita?

Existe pessoas que morrem de medo da figueira e até mesmo gostariam de comer os frutos, mas acredita ser algo macabro ou ruim. Tudo começou por influências nas interpretações esquivocadas da bíblia cristã, que tornou esta árvore motivo de diversas lendas urbanas e que colocou a imagem da figueira de forma muito negativa, mas talvez tenha um lado sobre ela que você ainda não conhece, vamos lá?

ONDE TUDO COMEÇOU

Há uma passagem na bíblia cristã, que relata sobre Jesus e a figueira. Jesus estava caminhando e ficou com muita fome. Ele viu uma figueira com folhas e procurou por figos. Não era estação de figos, por isso não encontrou nada. Jesus amaldiçoou a figueira, para nunca mais dar frutos (Marcos 11:12-14). Deste trecho surgiu muitas invenções sobre ele ter visto o Diabo e amaldiçoou, ou que a figueira tentou matá-lo. O que podemos compreender é que a figura principal do Cristianismo amaldiçoou apenas pela árvore não ter frutos, sendo que não era a estação adequada. Meu intuito não é criticar a atitude exercida pela figura do Cristianismo, mas apenas se basear no livro de onde é extraído tais ensinamentos e que demonstra o oposto do que muitos afirmam. Não havia uma entidade no local, nem muito menos frutos, apenas não tinha.

Não parou apenas nisto, houve muitas lendas entre a população brasileira sobre a figueira ser a casa de Satanás. Até mesmo minha bisavó que morava na roça, me contava que meu bisavô quando ia trabalhar, tinha que voltar por um campo onde tinha uma figueira e ele sempre via um homem assobiando de chapéu encurvado e que dava boa noite, ela dizia que isto só acontecia de noite. Estes contos são bastante comuns entre o povo da roça, alguns até relatam ter ouvido gargalhadas e conversas mas quando chegou perto não havia ninguém na figueira. Mas será mesmo que esta árvore seria um tipo de portal espiritual?…

DANDO UMAS VOLTAS PELAS CULTURAS

A Figueira é a primeira planta descrita na Bíblia, Adão usou as folhas da figueira para se vestir, ao notar que estava nu. O figo é considerado um fruto sagrado em diversas culturas, principalmente para os Judeus. Ela faz parte dos sete alimentos que crescem na Terra Prometida, segundo a Torá. São eles: trigo, cevada, uva, figo, romã, oliva e tâmara (representando o mel). Para os budistas a árvore figueira é venerada, pois foi debaixo de uma delas, que Buda teria alcançado a sua revelação espiritual. Os maias e os astecas utilizavam a casca de figueiras nativas da região para produzir o papel utilizado nos seus livros sagrados.

Em diversas vertentes pelo mundo, a figueira é vista como a árvore da clareza, do conhecimento, da evolução espiritual e principalmente usada para meditações. Na Kimbanda ela possui uma enorme importância no culto, além de ser considerada a raiz de toda magia e encanto. Da mesma forma como para o Candomblé, a árvore Iroko é sagrada e são feitos rituais em volta dela, a figueira também tem seus ritos que são feitos na Kimbanda. É possível existir aparições na figueira, devido esta árvore despertar vidência e clareza.

Os kimbandeiros fazem magias de baixo da figueira e muitos contam que buscaram proteções espirituais e obtiveram curas para enfermidades através de uma delas. No Vodu haitiano, existe a prática que os espíritos usam as árvores para descer do céu para Terra. Na Kimbanda há cantigas que fazem alusão a descida das entidades (Exús) através das figueiras.

“Balança figueira 🎶
Balança figueira 🎶
Eu quero vê Exú cair…” 🎶

Autor: Professor e pesquisador de religiões e culturas, Mestre Eduardo Henrique.




Definindo Exús e Pombas Giras

Se você gostaria de uma definição bastante objetiva sobre os Exús e Pombas Giras na Kimbanda, agora você tem! Confira.

Exús são responsáveis pelo movimento humano, estimulam vontades, podem fazer com o que está longe se tornar perto e o que está perto se tornar distante, daí surge o sentido de serem energias propulsoras, ligadas ao movimento e que impulsionam pessoas a chegarem em seus caminhos de sucesso, por isto um dos objetivos principais de cultuar Exu é ter caminho na vida, ter longevidade, proteção por onde andar, conseguir remover as barreiras que lhe impede de percorrer a trajetória.

São entidades difícies de lidar, pois quando não são tratadas fielmente, o que dão podem tirar. E o motivo desta dificuldade em defini-los de forma generalizada, é porque cada entidade possui suas histórias de reencarnações, conhecimentos diferentes, gostos, especialidades que nem sempre são iguais e principalmente quando se trata de manifestações. O que podemos afirmar é que EXU É CAMINHO, mas não conseguimos definir que todos gostam das mesmas coisas ou que viveram da mesma maneira, porque cada ancestral tem seus mistérios.

São entidades consideradas ligadas a humanidade, pois vem dar conselhos e ajudam as pessoas. Um exemplo:
1. A Pomba-Gira que tanto sofreu de amor, conseguirá aconselhar da melhor forma para que aquela pessoa não erre da mesma maneira que ela errou em vida e para que não passe pelo sofrimento que o ancestral encarnado passou.

2. O Exú que perdeu todos que amavam em um assalto a sua tribo, tendo que travar diversas batalhas, é um especialista em demandas, quando ele surge, é possível vir nos alerta dos perigos e nos proteger contra a morte prematura.

Podemos analisar que nos exemplos dados, conforme eles vão vivendo diversas vidas, vão adquirindo diversas experiências e criando sua particularidades, o que costuma explicar a sua zona de atuação.

E eles conhecem os sofrimentos e desejos dos humanos, sentimentos e pensamentos de cada um, por isto ninguém engana este povo.
Alguns deles são guardiões dos portais, mensageiros espirituais, mestres de alta magia, curandeiros e feiticeiros. Por conta de seus múltiplos aspectos, muitos não conseguem defini-los em uma única palavra, diferente que as divindades que alguns afirmam “uma é do amor e a outra da saúde”… Muitos consideram senhores de todos os caminhos, talvez seja pelo fato deles regerem os nossos pés e mãos (dos caminhos e dos atos), é por esta razão que quando se iniciamos para estas entidades, não raspamos a cabeça, porque elas não regem o nosso chakra superior.

Como costumamos dizer:
“Cultuamos Exus onde tem caminhos, porque Exu é movimento, ele faz a vida prosperar em ambos os sentidos.”




Conheça a Pomba Gira Rainha das Almas

 

Esta entidade é ligada diretamente ao Senhor Omolú e comanda todas as Pombas Giras ligadas ao Reino das Almas. Se você quer aprender um pouco sobre ela, você veio ao lugar certo, confira.

O que muitos não sabe é que o reino desta entidade foi onde deu origem a diversos outros reinos e agregou muitos sub-reinos, afinal todo Exú e Pomba Gira é espírito. Os espíritos que pertencem a falange desta Pomba Gira, embora possui algumas similaridades, eles são diferentes em diversos aspectos, o que torna cada um único e possuindo sua própria particularidade ancestral. A Pomba Gira Rainha das Almas evoluiu na linha das Almas, é comum chamarmos pelo título de “Dona Sete” ou “Rainha Sete”, pois, foi através dela que veio diversas outras Pomba Giras. Ela possui a missão de compor legiões de outras entidades de energia feminina no Reino das Almas, como por exemplo, Maria Padilha das Almas.

A Pomba Gira Rainha das Almas, assim como Omolú, determina o destino de muitos espíritos, e muito de suas servas trabalham como condutoras dos espíritos que foram libertos de seus invólucros materiais. Num lado mais obscuro, são Pombas Giras que podem acorrentar os vagantes e escravizá-los. Em suas manifestações é difícil definir seu comportamento, a Rainha das Almas, costuma agir de forma silenciosa e não costuma ter alteração na voz. Mutos definem as Pombas Giras desta falange como “frias” e é natural, pois estes espíritos trabalham junto às Almas, e acabam tendo partilhas de todos os sofrimentos, lamentações, problemas em seguir a vida espiritual, raivas, remorsos, entre outros sentimentos negativos e de desiquilíbrios que emanam pelos recém-desencarnados.

Por ser de alta evolução espiritual, esta Rainha possui uma enorme sabedoria, porém, nem sempre compartilha por ser muito criterioza, desprezando as pessoas que lhe procura por motivos fúteis e sem seriedade. Muitos sentem desconfortáveis ao olhar para alguém manifestado por uma Pomba Gira das Almas, pois ela penetra na mente com extrema facilidade e não é atoa que pode reverter situações de vícios, ajudando no equilíbrio mental e físico. Sua energia pode conceder desapego material e ajudar a evoluir.

Imagem do livro Quimbanda O Culto da Chama Vermelha e Preta de Danilo Coppini.

Ponto cantado

Foi condenada a viver na solidão, Por carregar no sangue uma terrível maldição. (×2)
Bruxa rainha feiticeira de Satã, Foi queimada viva com vestido de lã. (×2)
Rainha das Almas bruxa da eternidade, Foi morta por crueldade, Hoje vem no seu império. (×2)
Ela é Rainha da Calunga, Ela é Bruxa lá das almas. (×2)
Ela chegou, Chegou quebrando tudo, Gira das Almas chegou no mundo. (×2)

Letra do ponto: Cd Mojubá Guardiões do Caminho de Ogã Digo do Avagã e Família.

Oferenda de alimentos: Em algumas tradições é servido pipocas sem sal e sem açúcar, com um pedaço de carne de porco temperado com pimentas e pimentões, podendo espetar sete cravos-da-índia na carne. É possível assar pedaços de abacaxi e cereja, enfeitando à vontade.
No fundo do prato pode ser feito uma “farofa” com a calda das frutas citadas misturadas com farinha de milho, ou até mesmo licores finos.
Bebidas: Licores finos ou vermute, espumantes, vinhos brancos ou vinhos tintos suaves.
Fumos: cigarros finos ou cigarrilhas.
Reduto: Cruzeiros das Almas.
Presentes: esta entidade tem grande apreciação por pulseiras douradas, cruzes, coroas e rosários, tridentes, pequenos punhais.
Dia da semana: segunda-feira (consagrado às Almas).




Maria Padilha das Almas – A história por de trás das gargalhadas

É quase impossível entrar numa Kimbanda ou Umbanda e em algum momento não ouvir falar da Pomba Gira Maria Padilha das almas, é uma das mais antiga e conhecida no mundo inteiro. Mas será que realmente você conhece esta entidade? Sabe do que ela gosta e no que ajuda?… São estas e outras curiosidades que buscaremos responder para os nossos leitores.

• Texto – Professor Eduardo Henrique Costa

Ela vem de vermelho e preto, com sua cigarrilha e o bom perfume, suas gargalhadas permitem sentirmos a energia de vitória, essa é a Maria Padilha das Almas, uma das primeiras Pombas Giras das mais antigas a vir nos terreiros. Talvez você conheça como Maria Padilha das Sete Catacumbas, Maria Padilha da Porta dos Cemitério, Maria Padilha do Cruzeiro das Almas, são muitos nomes de batismo religioso que ela recebe por diversas aparições em lugares diferentes, mas esta entidade rege todo cemitério e tudo que tem ligação com as almas.

O nome Maria significa “rainha” e o nome Padilha está ligado à “panela” ou até mesmo “fogo”, sendo ela, a rainha do fogo. Ela é majestosa, de porte altivo, é a digna representante das mulheres que não tem medo de nada, exigindo sempre muito respeito. Ao contrário do que as igrejas pregam, esta entidade é defensora da família e odeia traição, principalmente de homens traindo mulheres. Gosta de luxo, de dinheiro, de boas joias, de boa vida, de música e de boa comida. É uma das poderosas comandante tanto do Reino dos Cemitérios, como também das Almas. Sua dança é sensual, pois gosta de seduzir homens pelos movimentos corporais. Muitos recorrem à ela para atrair amores, abrir os caminhos, pois sabem que ela é rápida e eficiente, também é implacável nas questões de demandas (guerras espirituais).

Imagem: Google Imagens.

São várias lendas e histórias dedicadas a ela, por ter tido diversas reencarnações, vidas terrenas, onde adquiriu diversas experiências e se tornou um grande espírito de alta evolução, uma das lendas mais conhecida e que explica como ela passou a trabalhar tanto para o amor e ser defensora das mulheres veremos abaixo:

Tereza invadiu a igreja de uma forma como nunca havia feito antes. Não se benzeu e nem ao menos olhou para a imagem de Cristo, que de sua cruz, agonizante, parecia olhar diretamente para ela enquanto avançava pela nave. Precisava falar com o padre Olavo nesse instante, não havia tempo a perder. – Padre! – seu grito ecoou pelas paredes repletas de símbolos aos quais ela sempre dera imenso valor, mas que nesse momento nada mais eram que meras imagens que apontavam-lhe o dedo culpando-a pelo pecado gravíssimo que cometera. – Padreee!

A voz subira de tom a ponto de atrair imediatamente o coroinha que estava a dormitar atrás do altar. – Dona Tereza! O padre Olavo foi atender um doente que precisa de extrema unção! A mulher sentou-se em uma cadeira da primeira fila e desatou em copioso pranto. O menino sem saber o que fazer correu para a rua e encontrou o padre que vinha já bem perto. – Dona Tereza está chorando como louca lá na igreja, o caso deve ser sério! – Olavo sentiu um baque no peito. – O que teria acontecido? Alguém teria descoberto? – Tudo bem Jonas, pode ir para casa que eu cuido disso.

Apressou o passo e da porta ouviu o choro da mulher. – Tereza, o que houve? – Com um salto ela levantou-se e com o dedo estendido para ele gritou: – Eu estou grávida, cafajeste! Grávida de você! Como pode deixar isso acontecer? Você me jurou que isso não seria possível, que não podia ter filhos. O que faço agora? Meu nome será lançado na lama! E meu marido? Meus filhos? – Calma! – ele tentava ganhar tempo enquanto em sua cabeça as imagens passavam em turbilhão. – O que faria com essa louca? Fora ela quem o seduzira, enfiara-se em sua cama, nua, em uma tarde que gostaria de esquecer. Tentara-o com seu belo corpo e se entregara de forma avassaladora.

Porque dizia que o filho era seu? Ele mesmo sabia de seus amantes, ditos em momentos de confissão muito antes da tarde fatídica. -Vamos sentar, respire fundo! Como sabe que é meu? – Falava pausadamente tentando inspirar confiança – Não pode ser de seu marido ou… de outro? – Só o que me faltava era isso – o tom subira novamente – me engravida e ainda me chama de vagabunda. Nunca mais dormi com homem algum depois de nosso encontro, meu marido viaja muito e nas poucas vezes que esteve em casa, não me entreguei a ele, por amor a você!

– Depois de pensar um pouco falou: – Então não há alternativa além do aborto, procure uma dessas velhas rezadeiras e dê um jeito nisso, o que espera que eu faça? – Precisamos fugir, eu abandono tudo para ficar ao seu lado! – desesperada segurava a batina do padre com força – Teremos nosso filho longe daqui! – Tentando ganhar tempo Olavo tirou as mãos dela de sua roupa. dirigiu-se ao altar e tamborilou com os dedos sobre a branca toalha, virou-se com raiva:

– Nunca! Vire-se! Você foi a culpada, me levou para a perdição agora quer acabar comigo? Como posso largar o sacerdócio e viver com uma prostituta que deita em qualquer cama com qualquer um? – Tereza deu um grito de ódio e partiu para cima do padre. Havia um punhal em sua mão. A lâmina afiada foi cravada no abdômen do rapaz que caiu de joelhos.

Tereza continuava com a arma na mão manchada com o sangue do padre e foi com ela que cortou a própria jugular, tendo morte quase instantânea. Por muitos anos o espírito de Tereza foi torturado pelas visões dessa e de outras vidas em que sempre causara sofrimento e mortes. Ao atingir um nível de compreensão adequado ao caminho evolutivo, tornou-se Maria Padilha das Almas, e ainda hoje busca ajudar a todos que a procuram tentando fazer com que novas almas não se percam como ela se perdeu por diversas vezes.

Cantiga para Maria Padilha das Almas (pontos cantados)

Abre essa cova
Quero ver tremer
Abre essa cova quero ver balancear

Abre essa cova
Quero ver tremer
Abre essa cova quero ver balancear

Maria Padilha das almas
O cemitério é o seu lugar
É na Calunga que a Padilha mora
É na Calunga que a Padilha vai girar

Oferenda

• Materiais Necessários: farinha de mandioca, licor, pipocas estouradas normal sem sal ou açúcar, prato de barro grande, arroz branco cozido, azeitonas pretas, 1 batom, 1 espelho, 1 pente vermelho, 7 rosas vermelhas, 7 cigarrilhas, 7 velas vermelha e preta e um champanhe.

• Modo de fazer: Em um prato de barro faça um padê de licor (farinha de mandioca misturada com licor), coloque um pouco de pipoca no meio, faça sete bolas de arroz cozidos e deixe ao meio, em volta das pipocas deixe azeitonas pretas.

• Leve de presente: 1 batom, 1 espelho, 1 pente vermelho e 7 rosas vermelhas. As rosas podem serem colocadas encima do prato de barro ou ao lado. Os presentes podem serem levados numa caixinha pequena aberta podendo ser uma própria caixinha que tenha espelho dentro, igual as que mulheres costumam muito guardar brincos e joias. Ou poderá estar enfeitando ou arrumando um lugar para os presentes no prato. Acenda sete cigarrilhas colocando na borda do prato, acenda sete velas e sirva como bebida champanhe despejando um pouco sobre o chão.

Caso você não tenha assentamento, poderá entregar na sétima catacumba ou portão do cemitério.




Pomba Gira, uma ancestral de grande valor

Uns chamam de mulheres de sete maridos, mulheres do cabaré, deusas africanas e outros até mesmo de amantes de Satanás. E não é tão difícil de encontrar aqueles que dizem que isto só pode fazer o mal. Mas afinal, você sabe quem é a Pomba Gira? Venha comigo nesta aventura!

ORIGEM DA PALAVRA

Pomba Gira, Pombo Gira, Pombajira, Bombojira, entre outras formas de chamar as comadres, senhoras dos caminhos, seres que se manifestam nos terreiros de Umbanda e Quimbanda, a palavra teve sua origem no idioma quimbundo (kimbundo) através do nome “PAMBU-A-NJILA”. O significado da palavra é caminho, podendo ser atribuído a encruzilhada ou cruzamento, especula-se que pelo fato das Pombas Giras serem espíritos que vivem nas encruzilhadas e caminhos de diversos lugares, houve esta associação com a divindade.

Mas não devemos confundir Pambu Njila com Pombas Giras. Pambu Njila é uma divindade muito cultuada pelo Candomblé de Angola, diferente que as Pombas Giras que são cultuadas nos terreiros de Umbanda e Quimbanda. Não havia o nome “Pomba Gira” ou “Bombojira, os antigos chamavam apenas de ancestrais, senhoras dos caminhos ou de comadres (madrinhas), mas por uma forte influência do Candomblé de Angola, houve o surgimento deste nome com base na divindade citada.

Pomba Gira não é um Nkisi, Vodum ou Orixá, não faz parte de nenhum panteão como divindade africana. Pomba Gira é uma das riquezas ancestrais do nosso Brasil, são seres que viveram diversas reencarnações pelo mundo, até atingir uma grande iluminação e se tornarem ancestrais ilustres, escolhendo se manifestar por transes mediúnicos em nosso Brasil (talvez pelo fato que sua última encarnação pode ter sido neste país, mas há muitos mistérios que norteiam). De fato, um espírito não precisa ser mulher no plano astral, mas esta legião de espíritos em suas últimas vivências foram mulheres e escolheram se apresentar de forma feminina.

Não existe apenas uma única, pois quando nos referimos à ancestralidade, é necessário entender antes que existiu diversas mulheres, com grandiosas histórias pelo mundo, que foram evoluindo e se tornaram uma Pomba Gira, ou escolheram trabalhar dentro desta corrente pertencendo à um reino do astral. As mais evoluídas possuem suas próprias falanges de espíritos que respondem por elas com o mesmos nomes ou lugares, um exemplo emblemático disto é a Maria Padilha e Maria Mulambo que são uma das mais antigas e em muitas famílias são consideradas uma das primeiras que vieram através de manifestações mediúnicas em território brasileiro.

O PRECONCEITO AO REDOR DAS RELIGIÕES

Quando alguém me pergunta se as Pombas Giras são amantes de Satanás, eu sempre faço uma pergunta de volta;

“Sua mãe ou avó por andar bem vestidas, possuindo seus próprios gostos e maneiras, além de ter aprendido muito nesta vida, deverá se tornar amante de uma energia que está presente desde as criações das dimensões?”.

Caso a reposta seja negativa, então talvez as pessoas entendam o preconceito que estes ancestrais sofrem devido as influências da igreja. Tudo que não segue a lei cristã é visto com maus olhos. Mas não é apenas no Cristianismo que isto ocorre, infelizmente no Espiritismo, até o momento ainda existe muito preconceito. Para muitos estudiosos da doutrina espírita, as Pombas Giras não são consideradas seres evoluídos, devido estarem ligadas às paixões e gostos terrenos. Como por exemplo, fumar, dar gargalhadas, dançar, querer vestir belas roupas, beber bebidas, mas isto ocorre devido o Espiritismo não ter a crença na magia, como a Umbanda e Quimbanda tem. Uma das figuras mais importante do Espiritismo Kadercista, Allan Kardec, era maçom e teve que largar suas simbologias, ritos, para ingressar à fundo no Espiritismo de Paris, que tem grandes influências cristãs e não aceitava práticas mágicas, mas ao reparar sua filosofia, é possível perceber alguns princípios que são maçom.

O Cristianismo não é a uma religião que pode ser vista como “polícia moderadora das demais”, com suas leis bíblicas, há cada religião e cultura existem suas próprias regras e costumes. Em muitas culturas Satanás é visto como um Deus do Submundo (inferno/umbral) e acabam associando com as Pombas Giras que podem percorrer por diversas dimensões e profundezas ocultas, a Umbanda e Quimbanda é um culto mediúnico à espíritos e Satã não é um, sendo impossível cabaliscamente a incorporação do mesmo e não sendo ancestral ou pertencente à cultura brasileira e afro-brasileira.

Tudo que há aqui, é um reflexo de lá. As Pombas Giras representam a figura feminina e ao contrário do que muitos pensam e atribuem à elas, estes seres gostam da verdade, da disciplina, do bom caráter e do respeito. Embora possam viajar para outras dimensões, incluindo o plano astral inferior, escolheram serem guardiãs da natureza e estar presente em nosso mundo. Por terem esta ligação tão forte com seres humanos e observarem cada gestos, atitudes e conhecimentos, acabam entendendo perfeitamente os seres encarnados (nós) e agem de certas maneiras para que as pessoas vejam que quem está na terra, é uma protetora, é uma amiga de alma que retornou para o plano físico e ajuda pelo espiritual.

UMA POMBA GIRA PARA CADA UM

Não é tão difícil encontrar pessoas que dizem que sua Pomba Gira é loira, alguns dizem morena e outros que é negra, estas senhoras da magia podem se manifestar de diversas formas e aparições, afinal são ancestrais ilustres. E cada Pomba Gira costuma ter seus próprios conhecimentos, especialidades e gostos, não é toda Pomba Gira que gosta de flores, bebidas doces ou cigarrilhas, cada ancestral possui sua própria particularidade, o que pode ter uma certa similaridade com outros espíritos da mesma falange. Tem Pomba Gira que usa roupas pretas, vermelhas e algumas até mesmo coloridas, tem Pomba Gira que é mais alegre e rir com facilidade, outras são mais sérias e de poucas palavras, e isto ocorre devido o fato das experiências diferentes vividas e caminhos que possam vir (Encruzilhadas, Almas, Matas, etc).

As Pombas Giras não são apenas para os ricos, mas também para os pobres, pessoas que vem sofrendo e precisam de ajuda, a Linha das Almas, por exemplo, atua no resgate de espíritos perdidos e que estão sendo atormentados, há luz onde muitos acham que é o fim e as Pombas Giras é o exemplo disto.

DEVEMOS TEMER OS EXÚS E POMBAS GIRAS?

Não devemos temer, mas devemos ter respeito, o medo pode ser resultado da falta de conhecimento e pratica, mas também pode ser o temor do descobrimento dos erros cometidos e que muita das vezes tentam esconder, destas entidades, que podem aplicar punições e “puxões de orelhas” naquele que vem fazendo coisas erradas. Estas entidades admiram muito a lealdade do devoto ou praticante, os antigos tem um ditado que até os dias atuais ainda é dito em alguns terreiros “cuidado com o que se pede aos Exús e Pombas Giras, pois o que dão, podem também retirar”. E não é tão difícil encontrar pessoas que se dedicavam a cuidar de seus ancestrais e após conseguirem o que queriam, nem lembrava dos amigos espirituais que estiveram lado a lado e concederam aquilo, eu já conheci de perto pessoas que conseguiram muito e num outro dia não tinham mais nada, um tronco não sobrevive sem as raízes, devemos ser gratos aqueles que nos ergueram.

POMBA GIRA APENAS PARA O AMOR?

Quando muitos pensam nelas, não é muito difícil de imaginar como entidades que lidam com a vida amorosa e atrativa ou sexual, é estranho mas tem pessoas que só acham que Pomba Gira só serve para isto, mas o que muitos não imaginam é que nem toda Pomba Gira trabalha para o amor ou concorda com todos os tipos de pedidos ou trabalhos, as entidades mais evoluídas não precisam conceder meros caprichos de pessoas para crescer. Não devemos pensar que os Exús e Pombas Giras são escravos e nem muito menos dos Orixás, afinal eles tem seus próprios cultos e reinos no astral.

CRÉDITOS FINAIS

Autor: Eduardo Henrique Costa (professor e pesquisador de religiões e culturas afro-brasileiras).

Imagens: As fotos usadas nesta publicação são pertencentes à Jéssica de Oyá.